terça-feira, 19 de novembro de 2013

De como a Bíblia é ignorada por estes dias

Recebemos um telefonema há dias. Domingo. 20h, mais coisa menos coisa. Hora da janta, dia de descanso, que se Deus pôde, nós também queremos.
Pois, ligaram a perguntar se era a mãe de R.
- Sim, sou, quem fala?
- Fala do Instituto X, queria marcar uma reunião consigo amanhã à hora tal, na escola.
- ...
- Sim? Sr.ª D. S....?
- Desculpe, estou só aqui a rever a minha agenda mental, é que passei o dia convencida que era domingo (o tal dia em que um senhor lá de cima se fartou de trabalhar e decidiu que um descanso era merecido).
- Pois, tem razão, mas é que estamos com tudo muito atrasado...
- Ah, bom (cá com os meus botões... atrasado? tem graça...), conte-me então...
- Podemos então marcar uma reunião para amanhã, para obter informações de R. e analisar da possibilidade dela beneficiar de sessões de terapia da fala? Precisamos que leve comprovativo de morada, fotocópias de ccs e de declaração de rendimentos de TODO o agregado familiar, mais ....
- Alto, alto, alto. Vamos lá parar por aqui. Está-me então a dizer que:
1. O apoio para alunos ao abrigo do decreto lei n. 3 afinal não é para todos?
2. O processo, que no nosso caso nos consumiu 2 anos, que obrigou R. a ser avaliada por terapeutas, psicóloga, reuniões, papelada, mais reuniões, conselhos de turma, mais reuniões, mais papelada, ..., afinal ainda não acabou?
3. Não obstante o Estado escrutinar a nossa economia caseira até ao último tostão, e tanto as finanças como a segurança social terem toda a nossa vida escarrapachada nos seus ficheiros, ainda temos que ir tirar mais umas cópiazinhas para comprovar aquilo que já sabem?
4. Subentende-se que, sendo a Segurança Social agora quem paga estes apoios, dados por empresas privadas a quem adjudica a tarefa, só beneficiaremos se formos mesmo, mesmo muito pobrezinhos?
5. E subentende-se também que estes apoios serão escassos, temporários, logo pouco beneficiando os alunos, criando antes instabilidade?
- ... bom... pois....
- (coitada, senti quase uma certa compaixão pela menina)

Resumindo, agradeci o empenho da doutora que estava a trabalhar a um domingo, para uma empresa privada com quem a segurança social estabeleceu uma relação cujo teor desconheço, e que teria a ingrata tarefa de descartar alunos com necessidades específicas por não serem suficientemente pobrezinhos ou por qualquer outra justificação que sirva os intentos económicos deste tal dito Estado Democrático.

Acrescente-se que, no ano passado, o processo de R. foi tão moroso que só no 3º período começou a ter apoio da escola - uma terapeuta da fala que só tinha meia dúzia de horas adjudicadas àquela escola e que, portanto, tinha que partilhar o tempo com mais de um aluno. R. teve 2 sessões com essa terapeuta, que entretanto se ausentou. Mais reuniões dos pais com diretora de turma (extraordinária, felizmente), nova terapeuta, mais reuniões, novo método, 2 sessões, ano acaba, apoio termina. Ponto.

E agora isto! Estamos em final de novembro... tem graça... e a nós, que sempre nos disseram que quem dá e tira ao inferno vai parar! Mais inferno ou menos inferno, a ideia lá nos fica, não é? Isso de dar e tirar não é de pessoas de bem. Não, senhor, não é!

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