terça-feira, 12 de novembro de 2013

3º passo: o diagnóstico (ou de como o Estado de Kafka se mantém bem vivo)

Nunca fui muito de colecionar. Bom, namorados talvez ainda fossem alguns, agora de resto... lembro-me de colecionar uns cromos da Vida Selvagem, uns outros d'Os Aristogatos da Disney, ainda passei pelos selos, mas tudo de forma ligeira, nunca fui aficionada.
Nem doenças, é verdade, quando me encontro nos bancos do centro de saúde até chateia, não tenho nada para a troca, nem ites nem ortes nem ões, nada que valha a pena exibir.
Ah, mas agora a coisa mudou! Já andávamos a sentir o Kafka agitado ali na prateleira, e desde que abrimos o processo (o da miúda, não o do K.), foi uma revelação! Tombaram-nos em cima uma quantidade de acrónimos e siglas numa coleção formidável, quase impossível de deslindar.

TAPAL - PE
                                         GOL-E
PAOF
                                                                                 ESSA
NEE
                             PEI
(...)
(...)
Poupo-vos ao resto, mas vou já avisando que o sistema instalado não vos vai ser tão benévolo.
E não, não inventei nenhuma, todas têm significado...
Mas há uma que terão mesmo que saber, pois é a tal reconhecida internacionalmente e que por cá se usa, se querem ter algum apoio estatal:
a CIF - classificação internacional de funcionalidade, incapacidade e saúde.

Dito de outra forma, é o referencial quantificador que avalia e mede a saúde e a (in)capacidade (meus parênteses) de cada indivíduo. É assim uma espécie de diagnóstico generalista, aceite pelas Nações Unidas e pelo nosso Ministério da Solidariedade e Segurança Social, que dá para tudo, segundo dizem: saúde, educação, segurança social, emprego, economia (????), etc, etc.

A CIF é, portanto, o cartão de apresentação que nos permite dar início a toda a parafernália de burocracias que se seguirão. É uma espécie de documento batismal, sem o qual não poderíamos piscar o olho ao Decreto Lei n.º 3, nem ganhar vitoriosamente um PEI (Programa Educativo Individual).
Aconselho um bom aquecimento prévio, uma releitura d'O Processo não será demais. Digo eu.

«E como duram os processos deste género, especialmente há uns tempos para cá!» 
F. Kafka, O Processo.

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